sábado, 26 de janeiro de 2008

NTERDISCIPLINARIDADE


O conceito de interdisciplinaridade, hoje comum na literatura educacional, tem sido objeto de inúmeras interpretações.

Disciplina escolar refere-se as matérias com seus conteúdos. “Disciplina” enquanto “ramo do conhecimento” e “ensino” (OXFORD,1995).

Uma disciplina implica condutas, valores, crenças, modos de relacionamento, que incluem tanto modos de relacionamento humano (interpessoal), quanto o relacionamento do sujeito com o conhecimento.

O prefixo inter nos permite interpretar a interdisciplinaridade enquanto “movimento” ou “processo” instalado “entre” quanto “dentro” das disciplinas.

Interdisciplinaridade envolve relações de interação dinâmica entre as disciplinas.

As transformações promovidas da interdisciplinaridade envolvem tempo. Mas esse tempo não é tanto cronológico, quanto um “período de maturação”, criticamente necessário para que as mudanças sejam processadas, reconhecidas, legitimadas e assumidas.

A interdisciplinariedade, para ser exercida coletivamente, requer o diálogo aberto através do qual cada um reconhece o que lhe falta e o que deve receber dos demais.(JAPIASSU, 1976, p. 89).

A interdisciplinariedade pode ser entendida como um “convite” à revisão da nossa relação com o conhecimento.

Exercer a interdisciplinariedade é “tecer” um ambiente interativo, onde os participantes estão “entrelaçados” pelos saberes que são capazes de produzir coletivamente.

Costuma-se falar em interdisciplinaridade como se ela fosse um trabalho envolvendo várias disciplinas (português, matemática, geografia, história, ciências,...) em torno de um projeto. Na verdade, é algo muito mais complexo: existe interdisciplinaridade quando se trata de mudança de atitude, de diálogo, de parceria, que se constitui exatamente na diferença, na especificidade da ação de equipes que querem alcançar objetivos comuns, que participam em posições diferentes num mesmo grupo dedicado a atingir uma meta.

A ação interdisciplinar reserva um sentido de organicidade. Elementos de uma equipe realizam conjunta e harmonicamente uma tarefa. Quando isso acontece, surge a oportunidade de revitalizar as instituições e as pessoas que nelas trabalham. O processo interdisciplinar desempenha papel decisivo para dar estrutura ao desejo de criar uma obra de educação à luz da sabedoria, da coragem e da humildade.

Segunda Fazenda (1998; 13): “Um olhar interdisciplinar atento recupera a magia das práticas, a essência de seus movimentos, ... Exercitar uma forma interdisciplinar de teorizar e praticar educação demanda, antes de qualquer coisa, o exercício de uma atitude ambígua.

O ser humano vive a ambigüidade latente entre o ser/estar, entre ser e estar sendo. O conhecimento nasce dos movimentos contidos nas dúvidas, nos conflitos, nas perguntas/respostas, nas certezas/incertezas que são vivenciadas na solução e ou/propostas, alternativas em superar, assumir, atuar, agir nessa ambigüidade do ser.”“.

Interdisciplinaridade compreende a busca constante de novos caminhos, outras realidades, novos desafios, a ousadia da busca e do construir. É ir além da mera observação, mesmo que o cotidiano teime em nos colocar perplexos e inseguros diante do desconhecido ou estimulando a indiferença para evitar maiores compromissos.

Quando em uma sala de aula todos se encaixam num todo maior, ocorre o envolvimento expresso através do respeito e da responsabilidade. Este é o espírito de uma sala de aula interdisciplinar:

Todos se tornam parceiros. Parceiros de quê? Da produção de um conhecimento para uma escola melhor, produtora de pessoas mais felizes (...) a obrigação é alternada pela satisfação, a arrogância pela humildade, a solidão pela cooperação, a especialização pela generalidade, o grupo homogêneo pelo heterogêneo, a reprodução pelo questionamento (...) Em síntese, numa sala de aula interdisciplinar há ritual de encontro – no início, no meio e no fim” (Fazenda, 1991).

Tudo na vida deve ser feito e guiado com a mais nobre responsabilidade.De repente, depois de algumas aulas, o professor já pode estabelecer com o aluno uma relação de confiabilidade muito grande. Esta confiabilidade aparece na crença do professor no trabalho do aluno e nele no trabalho do professor. Não surge, portanto, de um lado apenas, mas sim em uma via de mão dupla, onde às vezes não se pode dizer quem é que começou: professor, na medida que acolheu o aluno, ou o aluno, na medida que se dispôs a participar das aulas.

“No projeto interdisciplinar não se ensina, nem se aprende: vive-se, exerce-se” (FAZENDA, 1991, p.17). Devemos enxergar a interdisciplinariedade enquanto atitude.

BIBLIOGRAFIA

FAZENDA, I. C. A. Didática e interdisciplinaridade. Campinas, Papirus, 1998.

________. Dicionário em construção: interdisciplinaridade. São Paulo. Cortez, 2001.

RIOS, T. A. Compreender e Ensinar. São Paulo, Cortez, 2002.

Um comentário:

Carlos Gomes de Oliveira disse...

Este testo é seu?
Vou falar sobre esse tipo de pesquisa e gostaria de usar parte desse material e devo fazer as citações.
Por favor me responda no e-mail
Abraços...
Carlos Gomes de Oliveira
carlosgomesrosa@uol.com.br