sábado, 26 de janeiro de 2008

VIOLÊNCIA INQUIETUDE AGRESSIVIDADE

Temas como agressividade, violência e inquietude são no momento polêmicos. Por serem assuntos de grande amplitude, não será possível abordá-los em toda a sua complexidade, nem tão pouco dar fórmulas mágicas para a resolução dessas questões que muitas vezes acabam acarretando em problemas.

Importante distinguir violência, inquietude e agressividade. Em primeiro lugar que a agressividade como fenômeno de desenvolvimento é entendida como pulsão, é inato e não poderia ser visto como uma característica adquirida por uns e não por outros. Todos nós temos um forte impulso agressivo, senão não sobreviveríamos. Vejam que falo de uma agressividade necessária, que se simboliza, por exemplo, no ato da mastigação, da destruição do alimento com o objetivo de manter-nos vivos.

É uma agressividade que esta diretamente relacionada com outro elemento: da criatividade, da capacidade de aprender. Trata-se da apropriação, do domínio do objeto, do destruí-lo para poder construí-lo de uma outra forma, para assim conhecer o mundo e a si próprio. É vencer o desafio.

Também é importante que falemos de um outro aspecto: a capacidade de simbolizar, ou seja, de representar através de. Transportando essa capacidade para um exemplo adulto, pois ele cria um espaço entre o sujeito e a realidade que o irrita, o aborrece, o enfurece, mas onde o sujeito consegue pensar, dar um significado para o próprio impulso agressivo, seja raiva, ódio, inveja, desprezo. Se não há espaço simbólico, a agressividade sai pela via direta, pelo ato agressivo propriamente dito e isto se constantemente estimulado, desestrutura o próprio sujeito, colocando-o em permanente espaço de desestruturação.

Assim é preciso fazer uma distinção entre agressividade e agressão ou a violência: agressividade como esse impulso de conhecer, apropriar-se; a violência como essa agressividade saindo por via direta , não mediada pelo nível simbólico, algo que machuca corporal ou verbalmente , por omissão ou ainda o aniquilamento do outro.

Quando eu disse no início que não daria fórmulas mágicas é, primeiro, porque não as tenho. E, em segundo, porque se eu as desse, estaria tirando de vocês a possibilidade de pensar e de usar sua própria agressividade para descobrir o que fazer com os atos agressivos. Então, o que vou fazer é dar algumas “dicas” para melhorar essas situações onde os alunos são agressivos.

1º Dirigir a agressividade do aluno para o desafio por conhecer, possibilitando a ele um espaço sadio por onde canalizar essa energia.

2º Não existem crianças agressivas, assim como não existem crianças deficientes mentais, disléxicas... Quando dizemos que um aluno é agressivo, essa agressividade se transforma em parte de sua identidade, ao invés de dizermos que às vezes e em algumas circunstâncias comete atos agressivos. Pois, se dizemos a uma criança que ela cometeu um ato agressivo, ela vai poder receber de quem disse isso, junto com o reconhecimento de que cometeu um ato agressivo, a possibilidade de ser reconhecida como sendo mais do que isso, senão de onde sairá a energia para sanar-se, se não é dos seus próprios aspectos saudáveis?

3º Quando a atuação agressiva já está em ação, o professor deve impedir que se machuquem, contendo o aluno inclusive corporalmente e deve interpretar a agressão: “A quem ou a que agride essa criança?”

Procurar dar sentido a atitude tomada falando, explicando porque impediu que ocorresse a agressão. Ex: Estou te impedindo de bater no “fulano” porque se o fizeres vai te sentir mal e quem sabe até arrependido.

Para finalizar, gostaria de colocar um outro aspecto para refletirmos: seria com relação àquela agressão que é colocada dentro de nossos alunos de uma forma nada agressiva, eu diria até que docemente. São aqueles mandatos que, em geral, não são ordens, não são ditos de forma agressiva, mas sua função é justamente mascarar a agressão para confundir. Agressão que pode fazer nossos alunos sofrerem por não serem entendidos e escutados em sua originalidade, por fazê-los acreditar que ser um bom aluno é o mesmo que ser submisso e obediente. Digo isso, pois acredito na importância dos educadores na construção da subjetividade dos seres humanos e, assim, acredito que podemos elaborar, junto com nossos alunos, maneiras criativas e saudáveis de expressarem sua agressividade.

BIBLIOGRAFIA

GROSSI & BORDIN (organizadores). Paixão de Aprender. Petrópolis. Vozes. 1993

ASSOCIAÇÃO PSICANALÍTICA DE PORTO ALEGRE. Psicanálise em Tempos de Violência.

Élide Avila Kessler, psicóloga clínica , psicóloga escolar e professora Ulbra São Jerônimo.

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