A ESCOLA REFLEXIVA
A escola é um lugar por natureza coletivo e diversificado. Nela estão presentes diferentes pessoas, desejos, ideais e culturas. A escola é, assim, um lugar, um tempo e um contexto que não pode ser organizada/gerida se não levar em conta também os atores que dela fazem parte. De que escola necessitamos então? Que mudanças almejamos? Queremos mudar a escola?
URGE MUDÁ-LA! Miguel Arroyo em seu Ofício de Mestre, já nos questiona e desafia a mudanças na escola: Abrir caminhos incertos sempre será mais criativo e realizador do que trilhar os já batidos. Estamos nesses tempos de saber fazer a hora e não esperar acontecer? (2001. p. 173) Creio que sim! Já é passado o tempo em que os professores eram simples atores em um espaço com roteiro pré-determinado. O mundo ao nosso redor não se manteve estático nos últimos anos e a escola, enquanto comunidade e espaço social, não pode ficar a mercê das inovações. Se os alunos, os adolescentes, o mundo não é mais o mesmo, porquê a escola seria? Segundo Maria do Céu Roldão (2001) a escola é por natureza uma instituição social e é necessariamente uma instituição mutável e permanentemente confrontada com uma lógica de mudança, visto que as necessidades sociais mudam e, em conseqüência, a relação escola-sociedade está permanentemente afetada pelo ônus da mudança.
A escola inovadora que queremos precisa ter força para pensar por si própria, ser autora e autônoma. Formar cidadãos reais a partir de novas organizações curriculares, disciplinares, pedagógicas,... Queremos uma escola reflexiva formada por profissionais reflexivos e formadora de sujeitos também reflexivos.
Dentro dessa visão de autonomia, Isabel Alarcão (2001) fornece a seguinte definição para a escola reflexiva:
[...] organização (escolar) que continuamente se pensa a si própria, na sua missão social e na sua organização, e se confronta com o desenrolar da sua atividade em um processo heurístico simultaneamente avaliativo e formativo [...] só a escola que se interroga sobre si própria se transformará em uma instituição autônoma e responsável, autonomizante e educadora (p. 25)
Essa responsabilidade se faz presente dentro de sua autonomia, de suas reflexões e de sua prática. A escola reflexiva é aquela que une teoria e prática, prática e teoria, ambas caminhando juntas, ou seja, a teoria enriquecendo o fazer diário, a experiência.
A reflexão sobre o que vem a ser “teoria” é necessária para clarear e desmistificar conceitos e “medos”. Muitos professores sentem medo ao ouvir essa palavra, consideram que ela está totalmente fora da realidade de sala de aula ou, às vezes, nem conseguem enxergar onde ela se apresenta.
Segundo o dicionário Larouse Cultural (1992, p.1081) teoria é 1. Conjunto organizado de princípios, regras e leis científicas que visam descrever e explicar certo conjunto de fatos. 2. Conjunto relativamente organizado de idéias, conceitos e princípios que fundamentam uma atividade, e que lhe determinam a prática. Dessa forma a teoria é o que fundamenta nossas ações.
Luíza Helena Christov (2005) apontou este conceito em sua obra ao analisar as intenções que regem as ações, estando muitas vezes à sombra das mesmas. O que nos faz concluir que a teoria faz parte do nosso fazer contínuo.
Toda ação humana é marcada por uma intenção consciente ou inconsciente. Sempre podemos encontrar aspectos teóricos em nossas ações, ou seja, aspectos de desejo, de imaginação e finalidades. Sempre podemos analisar nossas ações perguntando-nos pelas intenções que as cercam (2005, p.32).
A análise das ações favorece a clareza das intenções, induzindo ou não para as possíveis soluções. Toda ação tem uma teorização e requer um esforço de todos envolvidos no processo escolar, pois a construção teórica se dá quando conseguimos ler nossas experiências através do viés da análise das intenções.
Nossa teoria é construída ao longo da vida, nos processos de formação inicial ou continuada, nas experiências e nas vivências.
Construímos nossa teoria ao aprendermos a ler nossa experiência propriamente dita e experiência em geral. Construímos nossa teoria quando fazemos perguntas aos autores; quando não nos satisfazemos com as primeiras respostas e com as aparências e começamos a nos perguntar sobre as relações, os motivos, as conseqüências, as dúvidas, os problemas de cada ação ou de cada contribuição teórica [...] (CHRISTOV, 2005, p. 33).
Para fazer a análise da ação, a escola necessita mudar de postura e adotar uma metodologia diferenciada. Sugiro, baseada nos estudos de Isabel Alarcão (2004), a Pesquisa-ação1, que aponta a aprendizagem como um processo transformador da experiência (2003, p.49), e a concebe dentro de quatro fases: experiência concreta, observação reflexiva, conceptualização e experimentação activa (idem).
A escola reflexiva vê nos problemas motivo de crescimento, pois toda busca gera a aprendizagem. Está construída a partir da pesquisa-ação, pois como nos aponta Isabel Alarcão (2004) uma escola reflexiva é uma comunidade de aprendizagem e um local onde se produz conhecimento sobre educação (2004, p.38). Tendo a pesquisa-ação como característica a contribuição para a mudança, a escola reflexiva traz dentro de suas veias profissionais condições de gerir sua própria ação e dialogar constantemente com ela, pois tem como finalidade a educação.
A base da escola reflexiva é a formação em serviço, visto que a avaliação constante das práticas conduz ao aprendizado.
Essa escola precisa ser gerida por um corpo reflexivo: a equipe pedagógica. Digo “equipe pedagógica” apropriando-me de uma nomenclatura utilizada por Laude Brandenburg (2003), que considera o serviço pedagógico estendido a várias pessoas: diretor, vice-diretor, coordenadores de curso, supervisores e orientadores, nomenclatura essa contrária a Teoria Geral da Administração. Essa equipe tem a função de gerir de forma participativa, cooperativa e educativa.
Educativa é a equipe que transpõe o conhecimento teórico para a prática de forma contextualizada, tendo a realidade enquanto problematizadora, vendo a si e os co-autores da gestão em diálogo e aprendizado contínuo. Age dentro de uma liderança compartilhada, percebendo a cultura organizacional enquanto elemento educativo e é gerida por todos, representada por um.
Essa escola reflexiva é baseada na inclusão, pois traz para si todo o corpo de alunos e professores num movimento de conhecer-se e se fazer conhecer, respeitando as individualidades, vivências e limitações.
O supervisor pedagógico tem nos pares da equipe o apoio para as discussões, nos professores os problematizadores do seu fazer, pois sua ação induz ao crescimento profissional dos mesmos e seu próprio.
O supervisor pedagógico contribui para a formação dos professores articulando a teoria e prática, buscando fazer elo do seu saber e o conhecimento profissional dos professores, interagindo, mediando, intervindo, problematizando e questionando as vivências escolares, num movimento de aprendizagem contínua e mútua. Afinal, o papel fundamental do supervisor pedagógico é acompanhar as práticas dos professores com vistas à continuidade de sua formação no interior da escola, como nos aponta Vera Placco e Laurinda Almeida (2003).
Nessa escola reflexiva, Isabel Alarcão (2004), sugere que os professores necessitam ter vários conhecimentos, conhecimento do conteúdo disciplinar, conhecimento do currículo, conhecimento do aluno e de suas características, conhecimento dos contextos, conhecimento dos fins educativos, conhecimento de si mesmo e conhecimento de sua filiação profissional. Esses conhecimentos são necessários enquanto base para um trabalho que vê no outro a extensão de si mesmo. Ao supervisor pedagógico cabe auxiliar esse professor, instigando-o a partir de sua prática.
A supervisão é uma actividade cuja finalidade visa o desenvolvimento profissional dos professores, na sua dimensão de conhecimento e de acção, desde uma situação pré-profissional até uma situação de acompanhamento no exercício da profissão e na inserção na vida escolar. (ALARCÃO, 2004, p.65).
Portanto, gerir essa escola reflexiva é considerar a experiência, utilizar-se da observação, conceptualização, generalização e experimentação na ação. É considerar a escola em desenvolvimento e aprendizado, é estar integrada às pessoas e processos. É ter no centro não somente o aluno, mas todo o elemento humano.
Para gerir essa escola reflexiva é necessário ter um projeto, um projeto construído a partir de um diagnóstico inicial, um projeto vivo, dialogado e com objetivos claros. É necessário também transformar esse projeto em projeto ação/reflexão, que é a característica da escola reflexiva: diagnosticar, refletir, buscar caminhos a partir da análise conjunta e agir.
Gerir esta escola requer a existência de professores igualmente reflexivos, que pensem e programem ações visando uma qualidade de ensino e aprendizagem. Deseja-se, assim, um professor autor de idéias e pensamentos, que busque respostas para as suas indagações e não seja um mero reprodutor de práticas não refletidas.
Durante muitos anos os professores foram usados como mão de obra para a formação de pessoas iguais em pensamento (poucos pensamentos!) e ações. Os programas curriculares, os livros didáticos, a legislação, os cursos de formação, muito contribuíram com esta perpetuação. No entanto a mudança se faz necessária, as amarras já não podem nos segurar. A “nova LDBEN” estará completando 10 anos em 2006, e a tão conclamada autonomia pedagógica autorizada por ela ainda não se firmou nas escolas brasileiras. É urgente a formação de profissionais reflexivos e para que isto aconteça tornam-se necessários contextos que favoreçam o seu desenvolvimento, contextos de liberdade e responsabilidade (ALARCÃO, 2004, p. 45). Destaco os termos liberdade e responsabilidade por acreditar que fazem parte dos espaços escolares, onde os atores deste meio interagem e fazem uma educação pautada também nestes princípios.
A complexidade dos problemas que hoje se colocam à escola não encontra soluções previamente talhadas e rotineiramente aplicadas.[...] exige do professor a consciência de que a sua formação nunca está terminada e das chefias e do governo, a assunção do princípio da formação continuada. No entanto, também lhe dá o reconforto de sentir que a profissão é para ele, com os outros, sede de construção de saber, sobretudo se a escola em que leciona for uma escola, ela própria, aprendente e, conseqüentemente, qualificante para os que nela trabalham. (ALARCÃO, 2001, P. 24)
Atualmente a escola, diferente de concepções anteriores, é considerada um espaço privilegiado para a formação de profissionais reflexivos. Muitos professores que se encontram nas escolas já freqüentaram a formação inicial há um bom tempo. Portanto a formação proporcionada no seio da escola deve viabilizar o estudo, a troca entre os pares, sendo capaz de (trans)formar práticas, conceitos e proporcionar um debate coerente com o atual contexto educacional. A escola deve estar organizada de modo a criar condições favoráveis ao diálogo e a refletividade tanto individuais como coletivas. Segundo Isabel Alarcão (2004), a escola e especialmente aqueles que organizam as situações de diálogo entre os professores precisam compreender o que é ser professor e como se pode e deve formar aquele profissional que é o professor.
Neste contexto de formação o supervisor pedagógico surge como figura essencial, pois a ele cabe a criação de contextos favoráveis à aprendizagem e ao desenvolvimento dos novos professores e, por sua influência, à aprendizagem de desenvolvimento dos seus alunos (ALARCÃO, 2004, p. 78).
A perspectiva tecnocrata da escola roubou um tempo precioso do supervisor, confinando-o ao preenchimento de papéis e ao controle rigoroso dos professores: cabia ao supervisor vigiar os passos do professor, através de fichas de acompanhamento que pouco estavam relacionadas com o avanço pedagógico, mas sim com o domínio das ações do professor que pouco podia ousar, pensar, agir e repensar. É contra esta visão que atualmente os supervisores lutam! Seu papel na escola é essencial, especialmente quando falamos na formação em serviço e na escola reflexiva. O supervisor pedagógico é a pessoa central da formação na escola e tem como objetivo principal criar condições de aprendizagem e desenvolvimento profissionais (ALARCÃO, 2004, p. 65).
A construção de saberes na e para escola só pode ser discutida por seus atores e o melhor espaço para o desenvolvimento deste trabalho é a escola. É onde são desencadeados os fatos e onde eles podem melhor ser observados, estudados, (re) planejados e (re) avaliados. O supervisor será o fio condutor deste novo olhar reflexivo!
Gerir uma escola reflexiva, formar professores reflexivos apresenta-se como meta para aqueles que acreditam na mudança a partir da escola. E como já foi referido anteriormente o trabalho de uma equipe pedagógica fortalece o alcance dos objetivos e engrandece a busca por uma educação de qualidade. A escola configura-se não mais como um amontoado de pessoas, mas como um todo coeso, organizado e com objetivos norteadores coletivos. Se a escola tem como missão principal “educar” (ALARCÃO, 2004, p. 84) é preciso pensá-la e organizá-la tendo como norte este objetivo. E os espaços de formação necessitarão refletir primordialmente sobre a questão de educar. Surge neste contexto a idéia de projeto de escola, onde a reflexão e a ação, bem como a pesquisa-ação cumprem seu caráter norteador.
É uma escola que sabe onde está e para onde quer ir. Pensa-se, tem um projecto orientador de ação e trabalha em equipe. É uma comunidade pensante. Ao pensar a escola, os seus membros enriquecem-se e qualificam-se a si próprios. Nessa medida, a escola é uma organização simultaneamente aprendente e qualificante. (ALARCÃO, 2004, p. 85)
“PRENÚNCIOS” DE UMA ESCOLA REFLEXIVA!
Limitei-me até aqui a uma apresentação teórica sobre a construção de uma escola reflexiva, sobre o papel do supervisor neste contexto e sobre a formação de professores reflexivos. Na segunda parte deste texto procurarei estabelecer relações entre os aspectos teóricos abordados e conhecimentos acumulados enquanto supervisora pedagógica de uma rede municipal do estado do Rio Grande do Sul. Estes dados empíricos forma coletados junto a professores desta rede municipal de ensino (RME) e fazem parte de uma pesquisa de Mestrado que venho realizando. Vali-me da aplicação de um questionário, onde foram abordadas questões referentes aos saberes que fundamentam a prática docente, e também da observação participante junto às escolas de ensino fundamental da RME. Participaram da aplicação deste questionário, 30 professores de uma Rede Municipal do Rio Grande do Sul. O grupo caracteriza-se pela heterogeneidade, com professores em início e final de carreira, com idades entre 22 anos e 44 anos. Quanto à atuação, são professores que desempenham suas funções desde as séries iniciais até a 8ª série do ensino fundamental. Todos os professores possuem Curso Normal ou a Licenciatura exigida para sua função. Com o objetivo de resguardar a identidade dos professores, eles não serão nomeados, sendo apenas identificados por sua área de atuação.
Como vimos no decorrer do texto a construção de um escola reflexiva exige algumas mudanças paradigmáticas por parte dos atores que dela fazem parte. Estas mudanças jamais poderão ser ditadas, pois descaracterizaria seu caráter participativo. O que tenho percebido é que nas escolas onde as decisões são unilaterais, ditadas por uns e incorporadas por poucos, as mudanças não ocorrem em sua essência. O que se vê neste caso são mudanças superficiais, de “fachada”, sendo que não tarda o reaparecimento dos problemas e dificuldades originais. “Não é fácil ter que conviver com as diferenças, principalmente no que diz respeito às opiniões/idéias, às vezes é mais fácil aceitar sem conflitos...” (professor de História, referindo-se aos impasses para a realização de um trabalho diferenciado). Esta fala traduz a visão de passividade frente aos conflitos que são inerentes à escola. Imaginar uma escola sem conflitos é uma ilusão, no entanto, ilusão maior é ignorá-los, abstendo-se do envolvimento e da reflexão, e aceitando que poucos decidam sobre a vida da escola. Neste momento os professores devem buscar um espaço saudável de convivência, onde a autenticidade e a justiça dêem sentido às trocas e a superação coletiva das dificuldades. Assim, estar-se-á caminhando rumo à uma escola reflexiva.
Uma escola reflexiva pressupõe uma comunidade se sujeitos na qual o desenvolvimento das relações pessoais no seu sentido mais autêntico e genuíno deverá estar no centro das atitudes, dos conhecimentos e da comunicação. Nem seria possível de outra forma, visto que a reflexibilidade é um atributo próprio da pessoa, com espaço aberto que possibilita a vinda das coisas, dos objetos e dos outros sujeitos à presença no ato da sua apresentação e representação. (TAVARES, 2001, p. 31)
“Bom professor é aquele que acredita no seu fazer e no fazer do seu grupo, no seu contexto sócio-educativo e que com certeza preserva para que todos atinjam suas metas e sua essência” (professor das séries iniciais, indicando condições para um bom trabalho). Nesta fala já encontramos as idéias de trabalho coletivo e de contexto sócio-educativo, tão presentes na construção de uma escola reflexiva. Percebe-se que o trabalho individual existe, visto que em sala de aula o professor é único enquanto docente, porém não desconsidera o fazer do grupo, já que no final da fala ressalta o alcance de metas por todos. Atribui-se aos professores a capacidade de serem atores sociais, responsáveis em sua autonomia, críticos em seu pensamento, exigentes em sua profissionalidade coletivamente assumida (ALARCÃO, 2001, p. 11). Importante também neste depoimento do professor é a idéia de contexto sócio-educativo. Reconheço este olhar interativo em diversos espaços escolares. A visão de trabalho docente e de escola, não é mais encarada como um ofício isolado da sua comunidade. Este é mais um “desafio” da escola reflexiva: entender-se como espaço vivo que influencia e é influenciado por inúmeros fatores que possuem fundamentos sociológicos, funções sociais e políticas. Trata-se de uma escola real, inserida em um contexto social de um determinado tempo histórico. A escola que se quer reflexiva e emancipadora é também uma escola vivida cotidianamente, dimensionada em seu projeto político-pedagógico-curricular, entendido aqui com elemento de organização do processo educacional que nela ocorre. ( Brzezinski, 2001, p. 65)
Ver a escola no seu contexto histórico exige assumir que o professor também é fruto de um contexto. Sua identidade, formação e cultura foram e são construídas e marcadas pelas circunstâncias e características do contexto histórico em que a profissão vem constituindo-se. Segundo Maria do Céu Roldão (2001, 131):
A reflexividade constitui-se, assim, como um caracterizador central do paradigma emergente no que se refere ao professor, a par de uma especificidade de produção de um saber próprio da profissão e por oposição à idéia socialmente aceita do saber do professor como reduzido ao domínio de conteúdos e técnicas de ensino, em larga medida partilhada pela própria representação de muitos profissionais.
Imerso neste espaço que se deseja reflexivo, o supervisor pedagógico configura-se como aquele que auxiliará e acompanhará os professores em sua formação: “Nos momentos de dúvidas ou angústias, quando solicito ajuda, ela (a supervisora) sempre tem um tempo e uma palavra de consolo e ajuda.” (professor das séries iniciais ao referir-se ao trabalho do supervisor). Da mesma forma, outro professor também das séries iniciais, ao referir-se ao supervisor menciona: “ Ela sempre busca uma luz no fim do túnel, vontade de crescer e de vencer profissionalmente, capaz, responsável, justa, honesta, vê os dois lados da moeda e principalmente nunca desanima e nem desiste.” Os recortes, ora apresentados, referem-se ao olhar de professores sobre o trabalho do supervisor pedagógico. Justificam a função do supervisor na construção de uma escola que deseja ser reflexiva. A emergência de espaços para discussão, estudo, bem como a possibilidade de encontrar alguém em quem confiar reconhecem no supervisor o profissional que exerce na escola a função de organizar momentos de reflexão, tomada de decisões e especialmente de formação em serviço. Porém, como já citei durante o texto, uma escola reflexiva requer ser gerida por uma equipe pedagógica. Em minhas observações, pude constatar que os professores desejam e reconhecem a necessidade de uma equipe que considere a participação, a cooperação e a educação como eixos que favoreçam o trabalho. Ao nomearem fatores, condições contextuais que favoreçam a execução de um bom trabalho, freqüentemente os professores referem-se a:
“ Uma equipe favorável, muitas trocas,...”
“ O ambiente escolar onde se caminha lado a lado em busca de dias melhores.”
“Que todos falem a mesma língua.”
“ Trabalho em equipe, comprometimento de todas as pessoas envolvidas.”
“ Uma equipe diretiva acolhedora e compreensiva, que auxilie em todos os momentos.”
Configura-se, assim, a busca por uma escola diferente que, utilizando a nomenclatura de Isabel Alarcão, denomino Escola Reflexiva. A análise que se seguiu não pretende ser um roteiro de construção de escola, mas tem a pretensão de promover uma reflexão e se possível, mostrar indícios da escola reflexiva na prática escolar. A tendência deste texto é a Escola Reflexiva e foi sob este enfoque teórico que foram analisados os dados empíricos. Romper com paradigmas tradicionais requer mais do que o olhar de alguns, requer vontade, persistência e conhecimento para argumentar que a escola que aí está necessita ser repensada ou já está sendo repensada! Concluo este texto, não com o objetivo de encerrar a discussão, mas com o íntimo desejo de ter provocado a desacomodação na busca de uma escola capaz de ser diferente para todos! Assim, faço minhas as palavras de Isabel Alarcão, que a meu ver mereceriam destaque em todas as escolas que se dizem diferentes ou talvez esteja aí o primeiro passo para uma reflexão necessária e desejada:
A escola como eu gostaria que ela fosse...
Quero uma escola comunidade, dotada de pensamento e vida próprios, contextualizada na cultura local e integrada no contexto nacional e burocrático mais abrangente. Não quero, pois, uma escola burocratizada que seja uma mera delegação ministerial. Desejo assim uma escola que conceba, projecte, actue e reflicta em vez de uma escola que apenas executa o que os outros pesaram para ela.[...] Não quero uma escola que se lamente do insucesso como um pesado e frustrante fardo a carregar, mas uma escola que questione o insucesso nas suas causas para, relativamente a elas, traçar planos de ação. Uma escola que reflicta sobre os seus próprios processos e as suas formas de actuar e funcionar[...]. Uma escola que saiba criar as suas próprias regras. Mas que, ciente da sua autonomia responsável, saiba prestar contas de sua actuação, justificar os seus resultados e auto-avaliar-se para definir o seu desenvolvimento. (ALARCÃO, 2004, p. 82)
Pensar uma escola reflexiva é pensar numa educação que busca mais do que a simples reprodução. Necessitamos de uma escola de criação, autora e autônoma em suas ações.
[...]Uma escola que se alimente do saber, da produção e da reflexão dos seus profissionais, os professores que, por isso mesmo, não se sentem meros assalariados. Uma escola à qual não é necessário ditar a formação requerida porque ela própria conhece as suas necessidades, cria os seus contextos de formação e integra a formação no seu desenvolvimento institucional. Uma escola onde tudo gira à volta da sua missão: educar as novas gerações. Em suma, uma com cara , como diria Paulo Freire, e não apenas uma escola... anônima. (ALARCÃO, 2004, p. 82)
Pensar a escola enquanto “escola reflexiva” é vê-la a partir de um diagnóstico inicial, produzindo seu próprio planejamento e executando, tendo a ação-reflexão-ação enquanto linha direcionadora. Essa escola tem uma equipe pedagógica que atua enquanto mediadora do processo, problematizadora da prática pedagógica e organizadora de situações de formação continuada do professor. Além da concepção de que num processo de formação a aprendizagem é mútua.
Bibliografia
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